sexta-feira, 7 de maio de 2010

Mãe-Galinha

Eu, mãe-galinha me confesso.

Exactamente por saber e reconhecer isto, desde que eles nasceram que me dedico a combater os exagerados sentimentos de protecção que me assaltam, e que se fossem alimentados, manteriam os meus filhos em casa supostamente protegidos de todos os perigos.
Nesta batalha permanente, sou apoiada por um pai descontraído e confiante, que acredita que o melhor que podemos fazer é deixá-los voar e cair para aprender.
A nossa dinâmica familiar permitiu que eles ficassem em casa até aos 2 anos (ele) e 2anos e meio (ela).

Entraram em Jardins-de-Infância que procurámos conhecer e decidimos confiar.
Mantenho-me atenta, mas não faço muitas perguntas, deixo-os falar e prefiro observar a maneira como chegam à escola e falam com as professoras/educadoras/auxiliares, os beijos e abraços que são dados ou não, os sorrisos na despedida, o carinho na voz quando falam de quem os acompanha.
Lutando contra mim, mas sem o demonstrar, e pelo contrário a incentivar, assino todas as autorizações, seja para o parque ao fim da rua, o teatro em Lisboa, o aquário no meio do Alentejo ou a praia do outro lado da ponte.
Não ligo para a escola a perguntar se já chegaram, e só fico a ver o autocarro partir se eles me pedem para o fazer (o que já é raro acontecer, memo com o pequeno!).

Confio.
Rezo, muito.
Acredito que vai correr tudo bem, porque só pode correr bem.
Acredito com a mesma força que, durante 6 semanas de repouso em casa, acreditei que ela ficaria comigo a crescer dentro do meu corpo.
Acredito com a fé que acreditei no médico quando me disse que a “bola de golf” no coração do meu filho de 22 semanas, era apenas uma coisa que acontecia e que desaparecia.

Confio.
Porque gostamos da educadora, porque gostamos das auxiliares, porque a escolinha é muito mais do aquilo que inicialmente vimos, porque envolvem os pais, porque se preocupam, porque se interessam, porque há um sentimento de pertença aquele espaço partilhado por todos, e porque… tantas coisas.

Depois há um dia que pode mudar isto tudo.
De repente ficamos a saber que a pessoa a quem entregamos todos os dias o nosso filho de três anos quase quatro teve um dia mau, tão mau que uma menina de três anos quase quatro ficou magoada. E houve um processo disciplinar, e ponderados todos prós e todos os contras a pessoa é suspensa durante 30 dias.

E nós, os pais, galinhas ou nem tanto assim, tentamos encaixar na imagem simpática, carinhosa e competente, o vulto negro de alguém que magoou, porque ao fim de 25 anos de trabalho com crianças não conseguiu perceber que estava a ultrapassar a linha, entre educar uma criança com uma birra e fazer um braço de ferro com uma menina de três anos quase quatro.

4 comentários:

  1. Mesmo conhecendo-te um pouco posso apenas imaginar o que estarás a sentir. Tem a calma possível, e não avalies o todo pela parte.

    E nem vale a pena dizer-te para te manteres (ainda mais) atenta, porque justamente, já sei do que a casa gasta!

    Beijos, estamos por cá, com menos tempo, mas para ti arranja-se sempre algum!

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  2. Olá, nunca aqui tinha vindo. Estou com um nó na garganta ao ler isto... Não sei que te diga, mas que é complicado lá isso é.

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  3. Fiquei arrepiada. Coragem... e façam o que acharem melhor, o que vos fizer sentir melhor. Não será fácil. Estava eu a pensar que penso tanto como vocês, que controlo o meu lado galinha e deixo-me a observar os sinais. Espero que tenha sido somente algo que nunca se volte a repetir.

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